2022/01/25

CARVANA GLOBAL PELA JUSTIÇA CLIMÁTICA

 

COMUNICADO DE IMPRENSA

Caravana Global pela Justiça Climática vai percorrer 400 km em Portugal

A crise climática e da biodiversidade é o tempo das nossas vidas. Enquanto empresas e governos repetem fórmulas esgotadas para políticas insuficientes, a degradação do clima destrói o nosso futuro coletivo. As cheias, secas, tempestades fora de época, subida do nível médio dos oceanos, incêndios florestais, perda irreversível da biodiversidade e degradação do ar, dos solos e das massas de água são a consequência direta de escolhas deliberadas tomadas nas últimas décadas pelo aparelho produtivo e pelo poder político a nível global.

Perante este estado das coisas, com o nosso futuro nas nossas mãos, a Caravana pela Justiça Climática, em abril, vai percorrer 400km em Portugal, marchando lado a lado com populações locais desde Figueira da Foz para o interior, através de Pedrogão Grande, Oleiros, Vila Velha de Ródão e muitos outros lugares, para depois descer ao lado do Tejo até Lisboa. Neste momento, mais de uma dezena de organizações nacionais e locais já se juntaram à preparação da caravana, que também ocorrerá nível mundial em pelo menos mais cinco países - Uganda, Honduras, Turquia, Nigéria e Bolívia.

A Caravana passará pelas comunidades que já estão mais expostas às consequências da crise climática, assim como por alguns dos principais focos de emissões de gases com efeito de estufa e de poluição do ar, da água e dos solos do país. Os incêndios florestais e a desertificação do país serão também evidentes no percurso, cruzando zonas devastadas pelo fogo em 2017 e em outros anos, assim como as linhas de água da bacia do Tejo afetadas por caudais irregulares e pela poluição, nas quais já existem e se prevê a construção de mais açudes e barragens.

O arranque da Caravana terá lugar no Complexo Industrial da Figueira da Foz, um dos pólos da principal empresa emissora do país, The Navigator Company. De lá até ao fim do percurso, a Caravana passará por vários pontos ligados à crise climática, nomeadamente Pedrógão Grande e Oleiros, epicentros dos mais graves incêndios florestais em território nacional, pela Celtejo, uma das vinte infraestruturas mais emissoras do país, a Central Termoeléctrica do Pego, encerrada em Novembro de 2021 sem garantir condições necessárias para uma transição justa para os trabalhadores, e a fábrica de produção de cimento mais emissora do país, o Centro de Produção de Alhandra, da CIMPOR. A transição energética também não pode passar pelo nuclear e pelo urânio, que alguns pretendem explorar em Nisa.

Iremos descer ao longo do rio Tejo até Lisboa, acompanhando um rio profundamente afectado no seu estado ecológico e biodiversidade. Exporemos, no local, a ausência de uma política capaz de impor a descarga de caudais ecológicos à IBERDROLA na barragem de Cedillo e à EDP nas barragens de Fratel e Belver. Caminharemos ao lado das barreiras à conectividade fluvial já existentes que fragmentam habitats, como o travessão no rio Tejo da Central Termoelétrica do Pego, e os locais onde querem construir novos açudes e barragens como a do Pisão, do Ocreza ou do projeto Tejo da Associação + Tejo e da Quinta da Lagoalva de Cima, em Alpiarça. Testemunharemos as más práticas agrícolas que conduzem à destruição da biodiversidade e à forte emissão de gases, assim como à poluição que entra no Tejo vinda de Espanha, que se agrava com as águas poluídas de afluentes e acaba numa acentuada contaminação do estuário envolvido pela Área Metropolitana de Lisboa.

Para conseguirmos travar a crise climática e a crise ecológica globais, precisamos de um movimento maior do que o mundo alguma vez já viu. Apelamos por isso a todos os movimentos e organizações que se revejam na luta por um futuro digno a que se juntem a nós, transformando a Caravana pela Justiça Climática num momento histórico que, através da força das populações, se insurja contra a irresponsabilidade, a impunidade, a manipulação e a ganância de um sistema capitalista, responsável pela degradação dos ciclos ecológicos que sustentam a vida e que são sustentados por ela.

Mais informações:

João Camargo (Climáximo) 963367363
Ana Silva (proTEJO) 922273439
As organizações: 
Acréscimo; APAEPG - Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do AE de Pedrógão Grande; AVIPG - Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande; Basta! - de crimes ambientais; Casa de Pedrógão Grande; Climáximo; Colinas do Tejo; EcoCartaxo; Greve Climática Estudantil Lisboa; MIA - Movimento Ibérico Antinuclear; Movimento Ecologista do Vale de Santarém; Movimento Cívico Ar Puro; MUNN - Urânio em Nisa Não; proTEJO - Movimento pelo Tejo.



2022/01/18

CARTA AOS PARTIDOS, EM TEMPO DE ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

(Nº. 1 / 2022) 


PUBLICAMOS A CARTA DA CPADA ENVIADA AOS

 PARTIDOS, CUJO TEOR APOIAMOS

-------------------------------------------------------------


Confederação Portuguesa das Associações 

de Defesa do Ambiente (CPADA)


Contributo dirigido aos partidos políticos 

em matéria de defesa do ambiente

 

A CPADA constata a ausência quase completa dos diversos temas da problemática ambiental no presente debate eleitoral, e chama a atenção para o facto dramático de o Planeta Terra estar a atravessar várias crises que podem colocar em risco o futuro da própria Humanidade.

  1. Crise climática – aumento das catástrofes naturais, degelo dos polos e das regiões boreais, que libertam, já hoje, milhões de toneladas de CO2, subida do nível dos mares e o alagamento das zonas costeiras, a alteração das correntes marítimas e desertificação de vastas zonas geográficas, incluindo uma parte substancial do nosso país.
  2. Crise ecológica – exploração insensata dos recursos naturais, crescimento demográfico exponencial, poluição massiva das águas, do ar, dos solos, poluição dos oceanos, destruição do tecido florestal que liberta na atmosfera uma enorme quantidade de carbono.
  3. Crise da biodiversidade - extinção massiva das espécies vegetais, animais e seres microscópicos, a sexta na história do nosso planeta, mas a primeira em que o principal causador é o próprio homem.
  4. Crise político-social - tensões geopolíticas que poderão gerar conflitos globais, assim como a migração de milhões de pessoas provocada pelas alterações climáticas, geradoras de penúria de recursos e fome.

E será a convergência de todas estas crises que poderá conduzir ao colapso, a uma derrocada irreversível da Humanidade.

É a altura para atuar, provavelmente o derradeiro momento e última oportunidade para inverter esta tendência.

Que medidas se propõem para mudar a atual situação:

  1.  Crise climática:
  • Florestar, reflorestar, plantar árvores e renaturalizar sistemas degradados, e proteger as zonas arborizadas, pastagens e outros espaços de vegetação nativa, porque são estes que têm o maior potencial de retenção de carbono.
  • Decrescer no consumismo de bens e de energia.
  • Descarbonizar, nos transportes, nas fábricas e em todas as atividades.
  • Produtos quilómetro zero:  produzir local e consumir local.
  • Afetar a totalidade das Matas Nacionais e públicas, à função de conservação e do sequestro do carbono.
  1. Crise ecológica
  • Adotar medidas urgentes, para a passagem rápida a uma agricultura em modo de produção biológica.
  • Uma alimentação mais saudável, para uma sociedade mais saudável.
  • Reforçar o apoio financeiro às explorações pecuárias em modo extensivo, e de práticas complementares promotoras da conservação e defesa do ambiente.
  • Fomentar a prática de cidadania ecológica, através da inclusão da Ecologia-ciência e Ecologia-política, como disciplinas escolares nos diferentes graus e níveis do ensino.
  • Determinar e apoiar a redução drástica do uso de plásticos, que está a contribuir para contaminar os ecossistemas terrestres, os mares e oceanos, os rios, os solos e, acima de tudo, as cadeias alimentares, incluindo a humana.
  1.  Crise de biodiversidade:
  • Restaurar uma paisagem biodiversa, com a instalação de sebes e corta-ventos, nas áreas agrícolas.
  • Plantar bosques e matas com espécies nativas, como prioridade nacional.
  • Garantir a integridade e a proteção dos valores naturais das Áreas Protegidas, e criação de novas áreas de conservação, do qual é exemplo a recomendação da Assembleia da República (RAR 266/2021) para a criação de um parque natural na região da ria de Aveiro, concretização da criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados. Criação da Área Marinha Protegida da Pedra do Valado e proteção das Salinas de Alverca e Forte da Casa.
  • Assegurar que a prática da caça contribui para a conservação da natureza e promoção da biodiversidade, regulamentando através da revisão da legislação em vigor.
  • Travar a degradação do litoral português, impedindo o avanço dos inúmeros processos de projetos turísticos de luxo ao longo da costa.
  • Melhorar os recursos humanos e materiais do ICNF, para que possa exercer as   funções importantes que lhe competem.
  • Aumento dos salários dos Guardas Florestais, Vigilantes da Natureza.
  • Avaliar adequadamente as alternativas para o novo aeroporto de Lisboa,   escolhendo, sem insistir nas propostas falhadas do Montijo e de Alcochete.
  1.  Crise social e política:
  • Aprofundar o envolvimento da sociedade na decisão das questões ambientais, através de uma política de entreajuda e solidariedade, entre nações, comunidades e indivíduos.
  • Dinamizar relações transnacionais, que conduzam para a resolução das ameaças ambientais, no respeito estrito pelos ecossistemas, suas componentes e dinâmicas
  • Promover políticas de partilha e participação política ativa dos cidadãos, em matérias de defesa do ambiente

Lisboa, 14 de janeiro de 2021

P’ Conselho Executivo

Miguel Serrão

(O vice-presidente do conselho executivo da CPADA)